Author Archives: Maria Antonieta

Lá vem 2012.


A cor de 2012


Natal na Madeira

As luzes e fogos das festas na Madeira vão custar mais de 3 milhões de euros. Nada como ter um líder iluminado.


Dor de cabeça


Austeridade no Olimpo

Zeus e Hermes, o mensageiro dos deuses, às voltas com a crise.


Se isto aqui fosse a Suécia

E se Portugal fosse como a Suécia? Isto é que era! Nestes tempos que correm é cada vez mais recorrente sonharmos com a vida da malta lá de cima. Na internet há uma ferramenta que torna este exercício de evasão ainda mais fácil. Trata-se de um site popularmente conhecido como Ikea Name Generator. Mete lá qualquer nome que o site gera uma versão suecóide dele, perfeita para batizar um móvel. Não, não vou dar o link agora senão vais abandonar este blog e pular para lá a ver como te chamarias se fosses uma estante da Ikea. Ou, mais provavelmente, um personagem do Stieg Larrson.

Calma, que vou ser breve. Apenas vou expor, numa pequena lista, como penso que seriam algumas personalidades, instituições e locais portugueses em versão sueca:

Håt Göld seria uma exportadora mundial de filmes porno.

Päços d Sferreyrke seria a capital do móvel no mundo e daria cabo da Ikea.

Käti da Casa dos Segredos saberia o que é a África, onde fica a África, a população da África, a área total da África, aliás Käti não estaria na Casa dos Segredos porque este reality show não chegaria à segunda edição por falta de audiência.

Krystiåno Ronnålddo gastaria bem menos cera para ficar completamente depilado.

Sluki Mönniz teria ganho o Eurovisão.

No Pärkwy däs Nåkoes não haveria cocós de cães no chão, nem resmungaríamos merdda! ao pisá-los.

Se Pynnto da Köjsta falasse sobre frutas ao telefone, seria para pedir à Fjernånta que comprasse lingonberries.

Manoel de Oliveira não precisaria ter um nome sueco para ser um realizador tão soporífero quanto Ingmar Bergman.

Sinha Jarddymke teria muita sinceridade capilar.

Sfé Pöfynho teria se suicidado após ouvir o último discurso à nação de Peddro Pasjsvös Kåellho.

Agora é contigo, vai ao Ikea Name Generator e converte quantos mais nomes achares necessário para transformar Portugal numa utopia nórdica: http://www.blogadilla.com/swedishFurniture/swedishFurniture.html


Assassinato em Reality Ville

O Inspetor Gonçalo foi chamado às pressas para averiguar um violento assassinato em Reality Ville, um – até então – pacato subúrbio de Lisboa.

A vítima havia sido encontrada morta na principal avenida do bairro, há uns 30 minutos. O cérebro da vítima havia sido retirado, e em seu lugar havia uma couve-flor. Cozida.

Para o Inspetor Gonçalo, o próximo passo era interrogar o maior número possível de habitantes de Reality Ville. Evidentemente era preciso que o inspetor batesse de porta em porta, uma vez que em Reality Ville ninguém pode sair da casa.

O Inspetor Gonçalo bateu primeiro à porta da Casa dos Segredos. Mostrou as fotos que tirara da vítima com seu telemóvel. Os ocupantes da casa reconheceram como sendo o homenzinho que tinha a mania de espiar lá para dentro todos os dias à noite. Mas não era por causa disso que alguém lhe ia tirar a vida, caraças. O inspetor, homem calejado nas lides da investigação, rapidamente deduziu os segredos de todos os habitantes da casa. Contou-os todos para a participante da mamas grandes, em troca do número do seu telemóvel.

Não parecia ao Inspetor Gonçalo que o assassino ali estivesse. Rumou para a casa do Peso Pesado. Também lá todos reconheceram a vítima como o homenzinho que espiava para dentro da casa deles todas as noites. Alguns confessaram que até prefeririam comer um cérebro humano a uma couve-flor cozida, mas não, que não haviam matado o homem. Na casa do Peso Pesado o inspetor recorreu a um expediente pouco ortodoxo em investigações, a tortura: chamou um a um os participantes, comeu um, dois Ferrero Rochers bem devagar, a saborear cada dentada, e ameaçou comer o terceiro e último se o interrogado não confessasse tudo. Todos os Pesos Pesados confessaram ter matado o homenzinho, a Meredith Kercher, a Rosalina Ribeiro… elementar, o assassino não estava lá.

O Inspetor Gonçalo estava tramado, quem mais poderia ele interrogar? Todas as outras casas estavam vazias. Na casa do Big Brother há uma placa da Remax pendurada há séculos. A Casa do Amor (antiga Academia de Estrelas) está toda degradada e dizem as más línguas que alguns ex-participantes de reality shows promovem orgias sadomasoquistas por lá. A casa do Último a Sair estava desocupada há alguns meses… “hum, era uma boa ideia ir lá”, pensou o inspetor. ”Quando toda a gente pensava que Roberto Leal e cia. estavam lá dentro, eles estavam cá fora; agora que toda a gente pensa que estão cá fora, se calhar estão lá dentro.”

Estava o Inspetor Gonçalo a dirigir-se para lá quando carrinhas e mais carrinhas chegaram em alta velocidade e , de dentro delas, saltou uma miríade de repórteres, cameramans e fotógrafos. O inspetor foi cercado por eles, que queriam saber quem era a vítima, quantos anos tinha, qual a sua profissão, qual era o seu signo e ascendente zodiacal, se o inspetor sabia quem eram os familiares e amigos da vítima, qual era a linha de investigação, se a perícia já havia feito luminescência na couve-flor…

Muito contrariado, o Inspetor Gonçalo viu-se obrigado a interromper a sua investigação, pois agora estava a participar do maior e mais popular reality show do país: o telejornal da noite.


A Metafísica da 2ª Circular

Todos os dias a 2ª Circular diz-me coisas. A Pontinha é na próxima saída à direita. Seat Ibiza é mais espaço e mais liberdade. A saída 4 dá para Camarate, Charneca, Alvalade e Avenida Roma. Pneuport, os nossos pneus, a sua segurança. Chelas é por aqui. Ford Fiesta é o carro oficial do Santo António (suponho que o cartaz esteja a referir-se às festas do próximo ano e aqui está um bom exemplo de austeridade em tempos de crise, viu Sra. Merkel? Se este e outros cartazes alusivos às festas dos santos continuam de pé em pleno setembro, é porque certamente a intenção é que sirvam também para 2012).

Agora, eu não estou acostumada a que a 2ª Circular faça-me perguntas, e ainda por cima perguntas complicadas.

“…e se de facto Deus existir?”

É isto o que uma ponte da 2ª Circular agora deu para me perguntar, todos os dias quando passo por esta via rápida.

Como assim, “… e se de facto Deus existir”? Como assim?

Olhem, eu até estou acostumada a lidar com perguntas enquanto estou a conduzir. “Por que não engatas logo a quinta?” “Por que não deste o pisca?” “Por que continuas na faixa da esquerda”? “Por que freias tão perto do carro da frente?”, pergunta-me o meu marido. São perguntas para as quais eu não tenho resposta, mas que também não me põem a pensar. Até porque ao mesmo tempo meus filhos estão a perguntar “Mamã, falta muito para chegar?” em looping e isto impede qualquer ser humano de raciocinar.

Mas, quando uma ponte pergunta-me “… e se de facto Deus existir?”, eu, que existo, logo ponho-me a pensar. E a encher-me de dúvidas altamente existenciais.

Em primeiro lugar, o “c” do facto afinal caiu ou não caiu com o acordo ortográfico?

Em segundo lugar, por que colocaram esta pergunta bem em frente ao Estádio da Luz? Por acaso estão a insinuar que eu pare o carro e vá lá dentro beliscar o Eusébio?

Ou estarão a sugerir que eu pegue a saída para a Buraca e vá dar umas voltinhas por aquelas paragens, a ver se eu saio de lá ilesa, o que seria um argumento pró-Deus mais contundente que a deteção do Bosão de Higgs?

Desde que puseram esta pergunta numa ponte da 2ª Circular, não há um só dia em que eu trafegue por esta via sem a sensação de estar a percorrer, no meu possante Opel Vectra 98, o circuito do Grande Colisionador de Hadrões do CERN, eu uma pequena partícula a acelerar em busca de uma prova tão cabal quanto desnecessária da existência de Deus.

Francamente, eu preferia quando as pontes da 2ª Circular não tinham pretensões teológicas e contentavam-se em gritar “Goooooloooooo!”. Uma via rápida a convidar à reflexão é tão incongruente quanto um instrutor de RPM a pregar o Sermão da Montanha.

Isto faz-me confusão, especialmente nestes dias em que, quando passo pela 2ª Circular ao cair da tarde a conjeturar se Deus de facto existe, o pôr-do-sol é tão espetacular e intenso que a luz chega a cegar, numa experiência que, para ser metafísica, só falta eu colidir a cem por hora com o camião que vai à frente.


Haikai do Maneki Neko


O onicófago


Ramiro sempre teve a mania de roer as unhas, como muita gente por aí. Mas com a crise a assombrar a sua empresa, só uma coisa prosperava na vida de Ramiro, a sua ansiedade, e já não bastavam as dez unhas das mãos para saciá-la. O empresário passou também a roer as unhas dos pés.

Adelaide nem desconfiou do novo hábito do namorado. Até o dia em que ele pediu-lhe a mão, não para casar, mas para roer-lhe as unhas. A empresa de Ramiro ia de mal a pior e as 20 unhas do homem já não bastavam para acalmá-lo. Adelaide deixou que Ramiro roesse as unhas das suas mãos, afinal era preciso apoiar o namorado naquele momento difícil.

Quando damos a mão querem logo o braço. Ramiro não quis o braço, mas quis logo o pé de Adelaide. Ele já não mais se satisfazia com uma dieta de 30 unhas. Adelaide deu-lhe um pé no rabo e Ramiro viu-se novamente com apenas 20 unhas para roer, justamente quando a sua empresa estava prestes a declarar falência e ele precisava roer muitas, muitas unhas, todas as unhas do mundo, do universo e além.

A Pega Rabuda, famosa casa de alterne de uma cidade vizinha, foi uma boa, contudo breve, solução encontrada por Ramiro. Lá, ele podia roer quantas unhas quisesse, desde que pagasse, além do programa, uma taxa de taras bizarras. Porém, pouco a pouco, uma a uma das prostitutas foi-se recusando a ir com Ramiro. Não há nada que irrite mais uma mulher do que estragar o verniz de uma unha, o que dirá de todas.

Não restou a Ramiro outro recurso senão recorrer à força. Atacava sempre à noite, em lugares ermos, pessoas a andarem sozinhas. Roía-lhes todas as unhas. A maior parte das vítimas eram indivíduos do sexo masculino e a imprensa logo conjeturou tratar-se de um tarado homossexual. Ledo engano. Ramiro apenas queria evitar as detestáveis unhas de gel, duras mesmo duras de roer.

O Tarado da Unha, alcunha pela qual Ramiro ficou conhecido, foi detido e brigou com os três primeiros advogados que o atenderam e que insistiam em alegar insanidade mental. Ramiro não queria ir para uma instituição psiquiátrica. O quarto advogado concordou e Ramiro conseguiu o que mais queria: ir para uma prisão comum.

Um cigarro por unha. Mãos e pés valem um maço. Este é o negócio de Ramiro com os detentos na prisão: troca cigarros por unhas para roer. Uma troca justa de vícios que deixa todos os envolvidos satisfeitos. Ramiro na prisão é hoje um homem sereno e em paz consigo mesmo. Tem tantas unhas para roer quanto precisar. Diariamente recebe cartas de mulheres que querem casar-se com ele e enviam fotos de suas mãos com longas unhas que elas fazem questão de jurar que são autênticas e não de gel.