Celso Moura

O Celso foi prematuro, nasceu seis dias antes do previsto. Em 85 era impossível antecipá-lo, mas este foi o primeiro indício da agora célebre necessidade de surpreender e, eventualmente, satisfazer os outros.

Cedo espantou as enfermeiras da maternidade, piscando-lhes o olho. Numa idade em que a capacidade ocular é quase nula, a proeza chamou a atenção do jornal local. Por sete dias, Celso foi uma celebridade confinada às fronteiras da cidade. Com o passar dos anos, a vontade de piscar o olho a outros lugares cresceu em seu peito. Ainda adolescente, fugiu de casa para fazer nome, o seu ou qualquer outro. Mas o mundo lá fora era diferente e menos acolhedor, as outras cidades não valorizavam a arte ocular, uns sítios preferindo o nariz, outros a boca.

Incapaz de ultrapassar a perda, a mãe de Celso saiu pela primeira vez da cidade para procurar o filho. Depois de muito viajar, encontrou-o numa rua da cidade vizinha, empoleirado num banco, a piscar o olho por uma esmola. Sem grande resistência, regressaram à cidade, para que a carreira de Celso pudesse ser relançada.

Hoje, Celso é uma daquelas pessoas que piscam os dois olhos quando pensam que estão a piscar apenas um.

Fotos: Rui Velindro


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