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Prova de Avaliação de Conhecimentos, Capacidades, Competências, Calosidades e Cheiro a Chulé

exames[1]

O leitor que me perdoe a ignorância, mas não conheço de memória nenhuma profissão em que haja exames de aptidão periódicos, mas só para a malta contratada e mais jovem. Se o leitor não me perdoar, mudamos já para temas que eu sei enumerar de cor, como “Verdades ditas pelos Governos na última década”.

Tenho algumas dificuldades em imaginar um médico a dizer a um piloto da TAP, “Ora então vamos lá ao rastreio visual”, e o piloto responder “Ó doutor, mas eu estou no quadro!”, e o médico “Ah, já podia ter dito! Então vá lá pilotar o A320 à vontade. Olhe, e não se esqueça dos óculos com 4 dioptrias que deixou na mesa.”

A PACCC não faz sentido, porque é uma espécie de Benjamin Button das Inspeções Periódicas. Em vez de se fazer mais inspeções quando o carro fica velho, faz-se mais PACCCs enquanto o professor é novo.

Deixemo-nos de nomes pomposos como “Prova de Avaliação de Conhecimentos, Capacidades e Competências”. Isto devia chamar-se só “Garantia”. Porque dá a ideia de que o Governo nos está a querer fornecer professores com 10 anos de garantia e revisões na marca. A partir daí querem lá saber onde é que o professor muda o óleo. Escusamos de nos queixar de algum professor com defeito que o Ministério da Educação vai responder: “Sabe, isto dos professores é como os carros usados: é preciso ter sorte.”

10anos_garantia

E agora, o mais estranho disto tudo. Os professores normalmente não chegam a professores por terem 40 horas de serviço num McDonalds e um curso de primeiros socorros. Normalmente chegam a professores por terem sido avaliados e acreditados por outros professores. Ora o Ministério quer fazer um teste para garantir que os professores que foram acreditados por outros professores que, segundo o Ministério, estão aptos a ser professores, têm capacidades para ser professores, demonstrando assim que o Ministério não confia nos professores que dão canudo a professores. Então eu pergunto: se ninguém confia nos professores que avaliam aos professores, quem é que vai corrigir e avaliar as provas dos professores? A Ordem dos Carpinteiros?!

Estou curioso para ver onde isto vai parar. Para já, o exame mantém-se, mas afinal se calhar já não é preciso ter 14. Ou seja, este Governo é como um pai que é intransigente em levantar a mão para o filho, só que fica na dúvida se é para lhe dar um estalo ou fazer-lhe uma festinha. Isto pode levantar uma nova forma de a malta universitária fazer cadeiras: se na discussão de nota não conseguirem levantar o vosso exame para 10, tentem perguntar ao vosso professor se não dá para passar com cinco ou assim. Se ele tiver o seu quê de Nuno Crato, pode ser o vosso dia de sorte.

E já que ainda não se decidiram os critérios para estar apto a dar aulas, e se é para ser justo, então permitam-me uma proposta: variem os critérios consoante a região. É que, se um professor para dar aulas em Famalicão tem de ter 10 na PACCC, para dar aulas no Algarve já tem de ter 14 no Cambridge.

E para lecionar na Amadora tem de ter cinturão negro.

ninja